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O que você guarda no seu baú


Sempre tive uma paixão por coisas antigas. Casas, objetos e histórias. Gosto também de pessoas antigas, não só pelas histórias que a idade proporciona, mas pela sabedoria e serenidade que costumam vir junto.


Dentro dessa sensação de que nasci na época errada, existe um objeto que a traduz perfeitamente. Os baús. Eles ativam a minha imaginação de uma forma tentadora.


Antigamente, em todo o pé da cama que se prezava, existia um baú. Nele, se guardava roupas de cama e, em um fundo falso, ficava aquela caixa de recordações secreta.


E o que havia dentro dela?


Segundo a minha imaginação, esta caixa era abarrotada de histórias (sem continuação e sem fim), contadas através de fotos, cartas, uma flor já seca pelo tempo, um diário. Nela também eram guardados pequenos objetos, tão estimados que não poderiam ser compartilhados ou simplesmente fazerem parte da mobília.


Baús como estes também guardavam enxovais, aquela coleção de roupas de cama, mesa, banho e vestidos que as mulheres faziam desde meninas para usarem quando se casassem. Um estranho hábito cultural visto com olhos de hoje, mas que por muito tempo fez sentido e marcou tradições.


Sem falar que os baús eram transportados como malas de viagem, sendo levados, inclusive, em longas viagens de navio feitas pelos corajosos imigrantes, que conseguiam colocar toda a vida que levaram até a partida neste baú. Uma lição de organização para quem não consegue fazer uma mala hoje, não é?

Tenho uma memória muito especial relacionada a um baú em particular. Quando fui para a Itália pela primeira vez, para realizar um grande sonho, fui atrás dos passos do meu bisavô. Queria testemunhar a história já escrita, como se fosse possível. O primo do meu avô, o saudoso Renato Dalla Valle, me recebeu com todo o carinho e me levou na casa onde meu bisavô nasceu e morou.
Como a casa estava quase desmoronando de tão velha, fui proibida de entrar, mas não me contive. Aproveitei aquela oportunidade única e entrei, para desespero do meu primo. E qual foi a primeira coisa que encontrei na casa? Um baú! Não acredito até hoje que não abri e que não trouxe para o Brasil.

Trazendo o baú para os dias de hoje, infelizmente não tenho nenhum em casa. Mas tenho até hoje uma caixinha onde guardo coisas importantes desde a infância. Me dei conta de que nunca mais coloquei nada nela.


Tomo a liberdade de abrir essa caixa na sua frente:




Aqui tem um chaveiro com uma foto minha e do meu pai que ganhei em um zoológico em São Paulo quando eu tinha doze anos. Um papel com uma escola na Itália onde eu faria um curso quando eu realizasse meu grande sonho. Cartões postais do Japão presenteados por um amigo da família. As cadernetas rosas de avaliação do ballet, quando eu tinha seis anos. Fotos minhas como bailarina. Fotos 3x4. Meus três “livros” de “poesia” da adolescência. A lista de aprovados no vestibular de 1999 da PUC. Uma carta das minha amigas de infância que recebi quando me mudei pela primeira vez. As duas medalhas de atletismo que ganhei no colégio. A chave do meu diário.

Isso tudo faz parte do meu repertório de vida. Conta cenas importantes da minha história, fala sobre as coisas que dei importância e que sonhei em cada fase dela. Não me deixa esquecer de algumas vitórias e sonhos realizados (essa é a maior riqueza desta caixa). Tão bonito… tão meu…

E o que eu colocaria nela hoje?

Fotos impressas (coisa rara, né), cartões que meu filho e meu marido me presentearam, flores secas que meu filho me deu, as lembrancinhas dos aniversários dele até aqui, o meu caderno da gratidão (que não me deixa esquecer das pequenas vitórias diárias), minhas ideias soltas em várias partes, meu artigos publicados aqui, que falam mais de mim do que eu mesma sei falar.


E você o que colocaria no seu baú?

Conta, vai! Vou adorar saber e compartilhar lembranças.

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