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Despercebida essa vida


Prometo que não vou plagiar Roberto Carlos, mas vou falar de detalhes do meu jeito, do jeito que estou vivendo hoje.


Neste tempo de reclusão, confinamento ou tempos estranhos, como quiser chamá-lo, me vi prestando atenção em coisas que sempre passavam despercebidas na rotina de 24 poucas horas do meu dia.

  • Me peguei reparando nas risadas, principalmente na minha e na do meu filho.

  • Vi que a minha risada é quase do tipo bruxa, meio excêntrica e descontrolada, sabe aquela?

  • Vi que a risada do meu filho acontece em meio a caretas, assim como a minha, mas a dele é a coisa mais linda que eu já vi na vida!

  • Comecei a ouvir e a prestar atenção em barulhos básicos como o abrir das cortinas, o ascender do fogão, a máquina de lavar funcionando, e até mesmo o som das brigas dos vizinhos. Ops, será que eles também me escutam?

  • Vi na janela da sala (e agradeço por ela ser enorme) um refúgio e dei mais importância ao que ela tem a mostrar.

  • Contemplei um dia de sol (aliás, que dias lindos tem feito!) mesmo não podendo aproveitá-lo como antes.

  • Eu, que nunca lidei bem com o tédio, vi que eu não sabia do que estava falando. Uma ida ao mercado poderia bastar.

  • Senti que é mais gostoso esperar pela comida sendo preparada do que saboreá-la, assim como a eterna comparação entre o cheiro e o gosto do café.

  • Percebi uma inversão de preocupações. Agora quem mais precisa das minhas orações são meus pais e não o meu filho, quem diria.

  • Dei importância às coisas que temos à disposição com um simples “ligar”. Gás, água, luz, telefone. De repente, tudo parece um tanto findável demais para sabermos lidar.

  • Me dei conta de que eu preciso de bem menos do que eu pensava.

  • Levei um tapa na cara do tempo, daqueles de machucar por dentro. Finalmente percebi que ele nunca faltou, o que faltava era planejamento e um outro olhar para a rotina e para a vida.

  • E aquele controle virginiano que eu sempre achei que eu tinha sobre todas as coisas? Não existe mais ou simplesmente nunca existiu.

Me dei conta de que a vida passava um tanto despercebida.

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