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Como o que era pra ser o primeiro capítulo de um livro virou a conclusão de uma história de vida


Te convido a conhecer a história de uma pessoa que, escrevendo sobre as suas próprias experiências de mudanças de cidade, conseguiu descobrir qual foi o maior aprendizado disso tudo e ainda chegou, naturalmente, ao tema e ao título para o livro que, até então, ela nem sabia por onde começar. Isso tudo aconteceu comigo e nesse artigo!

O que era pra ser o primeiro capítulo de um livro:


De onde você é?


Sempre quando me fazem essa pergunta, a resposta é a mesma: “é uma longa história.” Nasci em São Paulo (capital), mas me mudei muito durante a minha infância e adolescência. Por isso, seria simplificado demais se eu respondesse apenas: de São Paulo.


Sei que a minha história não é tão diferente das histórias de muita gente por aí, mas senti a necessidade de contar um pouquinho dela para que outras pessoas se identificassem com os desafios vividos e com os aprendizados absorvidos ou ainda em processo.


Nasci em São Paulo no bairro da Mooca, mas, antes desse nascimento, existe uma história muito bonita de coragem e empreendedorismo que vou aproveitar para contar resumidamente aqui.

Em 1973, meu pai saiu de Garibaldi para São Paulo, de carona no caminhão de um tio, em busca de melhores oportunidades. Começou como balconista em um comércio de vinhos chamado Cantina Garibaldi, localizado na Mooca, que a vizinhança chamava de Adega. Mais tarde, o negócio cresceu e se diversificou.
Como foi dando tudo certo, meus tios e meus nonos também foram para São Paulo e começaram a trabalhar lá. Mas a migração não parou aí. A família inteira da minha mãe, que incluía 7 crianças e adolescentes, a minha mãe, então noiva do meu pai, e os meus avós, pegaram um ônibus e desceram em São Paulo para fazerem parte dessa aventura. Consigo imaginar os olhinhos das crianças diante das novidades de uma cidade tão grande.

Aí, em 1980, eu nasci, mas, com apenas 4 meses de idade, troquei de endereço pela primeira vez. Meu pai, em busca de uma carreira empresarial, conseguiu uma oportunidade em uma cidade chamada Estrela, marcada por uma forte imigração alemã e por um calor insuportável, segundo relatos da minha mãe.


Lá fiquei até meus 5 anos e, nesse pouco tempo, já construí algumas das minhas melhores lembranças de infância. Morávamos eu, minha mãe, meu pai e meu irmão em uma casa rosa, térrea e com um pátio enorme que foi palco de muitas aventuras. Lá tinha um parreiral e até um abacateiro!

Na frente da nossa casa, morava uma senhora que parecia uma fada, fazia esculturas no jardim e maravilhas na cozinha. Lá vivia também um senhor que era artista de gaiolas. Em um lugar mágico cujo cheiro posso ainda sentir, ele fazia esculturas de madeira para os passarinhos morarem. Eles tinham uma filha que fazia desenhos lindos em uma mesa de arquiteta e tinha potes com tampinhas de pasta de dente que ela abria com alegria para a gente brincar. Lembro desse lugar como se tivesse um pozinho mágico em torno das minhas lembranças. Um lugar para a alma recordar sorrindo.

Quando eu tinha 6 anos, nos mudamos para Garibaldi, no interior do Rio Grande do Sul, chamada de Terra do Champanha. Na nossa casa e nessa cidade, também construí lembranças maravilhosas junto com meus pais, meus dois irmãos (meu irmão mais novo nasceu em Garibaldi), muitos primos, tios, nonos e vizinhos. Foi uma infância muito feliz! Tínhamos um pátio grande, mas as brincadeiras geralmente se estendiam pelo bairro todo, fazendo cabanas nos terrenos baldios, com tocos e folhas de árvores e com todas as ferramentas que as crianças de hoje nem sabem que existem. Uma liberdade de ouro!


Quando completei 12 anos, vivi a primeira mudança drástica na minha vida. Fomos de Garibaldi para Porto Alegre e eu nem poderia imaginar que seria a cidade onde mais tempo eu iria morar (até agora) na vida. Lá fui eu, cheia de esperanças e sonhos para viver na cidade grande.


Me mudei no meio do ano letivo e só com essa informação você pode imaginar o drama para uma guria no início da adolescência. Pois é, foi tenso, caí em uma turma bem fechada, com grupinhos já formados desde o jardim de infância. Cena de filme americano! Mas fiz algumas poucas amizades que não levo até hoje, mas que foram muito importantes para aquele período turbulento.


Nessa fase, reforcei a amizade com 4 amigas de infância que ficaram em Garibaldi e, felizmente, na minha vida também. E não pense que conseguimos isso através da Internet, afinal, ela tinha recém chegado ao Brasil na época. Foi através das cartas que conseguimos manter os laços, tanto que somos amigas até hoje. Tenho um sentimento muito especial pelas cartas, como já falei aqui.


Com 16 anos, me mudei para Campinas, interior de São Paulo, novamente no meio do ano letivo. Dessa vez, a turma era mais amigável, mas me senti da mesma forma como quando me mudei para Porto Alegre, um bicho do mato com medo de tudo. Não consegui acompanhar a turma e repeti de ano. Como há males que veem para o bem, caí em uma turma maravilhosa, que me acolheu de uma forma linda. Até hoje, me lembro da festa surpresa que fizeram no meu aniversário!


Aí, quando eu já estava me acostumando com tudo e com todos, nos mudamos de volta para Porto Alegre, um dia depois da minha formatura do 2º grau. Nunca mais voltei para Campinas.

Em Porto Alegre, comecei minha trajetória profissional e acadêmica e, a partir daí, não me mudei mais acompanhando meu pai. A próxima aventura foi com 24 anos, quando fui para a Itália realizar um sonho de vida. Voltei 2 anos depois para começar tudo do zero. Durante 1 ano, eu pensava todos os dias em voltar para a Itália, que lá tudo era melhor, enfim. Só quem passou pela experiência de morar fora entende essa dualidade de sentimentos de querer voltar para o Brasil quando não está aqui e querer estar no exterior quando está aqui, tudo misturado e ao mesmo tempo.


Entende como é difícil para mim dizer simplesmente que sou de São Paulo?

Sou de São Paulo, de Estrela, de Garibaldi, de Porto Alegre, de Campinas e da Itália. Meu inconsciente, através dos sonhos, ainda vaga pelas minhas casas da infância, de vez em quando.

Por isso, a pergunta “De onde eu sou?” poderia ser perfeitamente substituída por “Quem eu sou?” pois acredito que nos tornamos o que interpretamos das nossas vivências, dos lugares por onde passamos, principalmente nos quais ficamos por um tempo, e das pessoas com as quais convivemos.

Quer saber o que mais me marcou em todas essas mudanças?

Eu sempre fui a mais entusiasta e apaixonada pela ideia de me mudar de cidade (meus irmãos que o digam!). Na minha cabeça, era a oportunidade de eu ser outra pessoa, aquela que eu sempre quis ser: extrovertida, segura e descolada. E, estranhamente, eu me mudava, mas eu não mudava! E isso me deixava cada vez mais triste!

A cidade era outra, as pessoas eram outras, era tudo novo, mas eu continuava a mesma pessoa, com mais bagagem, é verdade, mas sem saber como usá-la. Afinal, são experiências demais para compor um só significado das coisas, da minha personalidade e do meu aprendizado. E só há pouco tempo, estou conseguindo ressignificar tudo isso.


Enfim criei raízes em Porto Alegre, e, hoje, pela primeira vez na vida, encontrei um lugar para chamar de meu. Meu lar, onde posso desfazer as malas sem medo de me mudar ou querer mudar a qualquer hora. Aos poucos, também estou encontrando o meu lugar ao sol em relação à vida profissional, me encontrando através da escrita de uma forma que eu nunca imaginei.


E a conclusão dessa história cheia de mudanças, que só consegui chegar escrevendo esse texto, é essa:

Estou me tornando uma pessoa cheia de histórias para contar e interessada nas histórias dos outros. A minha bagagem está menos pesada à medida que eu exponho o meu mundo através dos textos que escrevo. Aos poucos, sem precisar me mudar mais de cidade, estou me tornando a pessoa que eu queria ser.

Se eu quero me mudar de novo?

Não, sinto que agora não preciso mais fugir de quem eu sou. Vou curtir essa sensação de estar em casa, talvez, para todo o resto da vida.

P.S.: Esse texto começou a ser escrito com o objetivo de ser um livro, aquele que eu tanto quero escrever. Mas foi indo por um outro caminho, com mais cara de artigo (dos meus artigos). E, no final, consegui, finalmente, ter a ideia para o livro!

Escrever é mesmo uma aventura, por mais que você tente controlar o andamento das coisas, você sempre se surpreende com o desfecho. Mas o mais importante que descobri hoje é que o conteúdo está todo aqui dentro e aí dentro, basta olharmos para ele sem censura.


Estou muito feliz e emocionada por ter conseguido chegar a conclusões muito importantes para a minha vida enquanto eu escrevia esse artigo, que era só pra ser uma pequena parte de muitas páginas de um livro.


Só posso concluir esse texto com uma única dica: ESCREVA!

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