Muito se fala no poder que o Storytelling tem para a comunicação de uma marca, seja pessoal ou profissional. Histórias geram empatia, aproximam e comunicam de uma forma mais natural e verdadeira. Isso já é quase uma unanimidade. Mas o que ainda sinto falta é de ouvir sobre a importância de registrar a história de uma vida, de uma família e de uma empresa.
Como assim?
A técnica de contar histórias já estamos aprendendo, através de livros, cursos e conteúdo sobre o assunto. Mas como uma história real consegue ser contada se não foi devidamente preservada, registrada e documentada?
Entendeu onde quero chegar?
Na ficção, esse problema não existe porque posso contar uma história que eu criei, mas, na vida real, como em uma biografia, por exemplo, não posso inventar. Preciso usar a matéria-prima, ou seja, os fatos que aconteceram há muito ou pouco tempo, com pessoas que, muitas vezes, não estão mais vivas para contar os detalhes.
A impressão (incômoda) que eu tenho é que a verdade vai se perdendo a cada dia que passa e, com ela, a essência e a alma que tanto emocionam vão indo embora, e, se deixarmos, a história morre, desaparece no tempo. Poucas coisas me incomodam tanto.
Vou abrir um parêntese aqui. Sou apaixonada por casas antigas e, toda vez que passo por uma, imagino as cenas que aconteciam ali, quem morava na casa, o que faziam, a filha se apoiando na sacada tentando imaginar uma outra vida, enfim. Construo histórias na minha imaginação que enriquecem ainda mais esses lugares e, assim, vou me apegando, mesmo não tendo nada a ver com aquelas casas e aquelas famílias.
E, quando vejo essas casas serem destruídas para darem lugar a prédios, morro um pouco junto. Algumas ainda ficam com as fachadas preservadas, o que ameniza um pouco a dor. A verdade é que a nossa cultura não preserva as suas histórias, no máximo, mantém a fachada para dizer que se preocupa.
Histórias de uma vida
Na nossa vida pessoal, estamos acostumados a registrar tudo, postar, compartilhar, curtir, amar, mas não costumamos organizar tudo isso, as fotos, as memórias, os acontecimentos, porque, afinal, é tudo muito rápido.
Há um tempo, minha mãe reclamou que eu postava tudo nos Stories do Instagram e ela não conseguia acessar e mostrar as fotos para as amigas depois. E era verdade! Fiquei com pena e comecei a colocar nos Destaques. Mais do que isso, comecei a pensar sobre a efemeridade da minha história, se eu continuar não cuidando dela.
Histórias de família
Se é assim na nossa vida pessoal, quando abrimos o leque para as nossas famílias, já perdemos o controle dos detalhes. Muitas histórias se perdem com o tempo, como se fossem nada.
Ouvimos, ouvimos, mas não registramos os causos do avô que vivia contando a mesma história, mas ninguém se interessava de fato pelo que ele contava. Ninguém parou na frente dele e escreveu os acontecimentos mais importantes. Imagina a alegria que ele sentiria ao ver alguém interessado no que ele tinha pra contar?
Meu bisavô por parte de mãe, por exemplo, ninguém sabe de onde veio, apenas que foi da Itália. Não é uma pena só porque a família não pode fazer a cidadania. É uma lástima porque é parte da história de uma família que morre. Um pouco de mim, muito do meu bisavô, da minha mãe, tios, primos, meu filho, por todas as gerações futuras, entende? Uma lacuna irreparável.
Histórias de empresas
Quando falamos de empresas, o desafio é ainda maior. Sabe aquela famosa linha do tempo da qual muitas se orgulham? Ela não é feita somente de datas históricas como a fundação, a conquista de prêmios, as fusões, a mudança de sede, as filiais.
Ela é feita de vários pequenos momentos, histórias de superação, desafios, conquistas, ideias, alegrias, frustrações, escritas pelas pessoas que, diariamente, vão inserindo no livro imaginário da empresa a sua marca e a sua contribuição. Se não forem registradas e acompanhadas de perto, essas histórias podem, facilmente, se perder no tempo.
Pode-se construir um império, mas, se a história não for respeitada e preservada, perde-se a oportunidade de ser eterno.
Como fazer para preservar as histórias, então?
. Na vida pessoal, escute de verdade, registre e cuide da sua história e da sua família. Pegue essa responsabilidade para si, não espere pelos irmãos, tios ou primos.
. Na empresa, eleja uma pessoa ou um departamento para registrar, publicar e guardar as fotos, vídeos e acontecimentos. Não negligencie essa importante tarefa de curadoria. O “quando der tempo, eu faço” pode nunca chegar.
. Escreva ou contrate alguém para escrever o livro da sua empresa. Aproveite uma data comemorativa, como o aniversário da empresa, para publicar esse livro ou mostrar aos colaboradores e à comunidade.
. Atualize esse livro, para que ele englobe todos os colaboradores, inclusive, os novos. Com um toque de criatividade, isso é possível.
. Perpetue as histórias na comunicação da sua marca, através de vídeos, materiais impressos e conteúdo online. Aproveite os eventos e todas as oportunidades para contar a história aos colaboradores.
. Os colaboradores devem ser tratados como embaixadores da marca. Quanto mais eles souberem e se sentirem parte da história da empresa, mais eles falarão e passarão adiante.
. Crie momentos históricos sempre que tiver oportunidade. Dê importância aos aniversários da empresa e de cada colaborador, valorize os aniversários (tempos) de empresa.
. Não tenha um time de colaboradores, mas sim, de relacionamentos. Só eles criam histórias que se juntam com a da empresa, enriquecendo-a de tal forma que você vai ter vontade de guardar o livro em um cofre, de tão valioso que ele será.
. Enquanto o livro da sua empresa não sai, vá escrevendo as histórias importantes, começando com as datas mais significativas. Faça uma linha do tempo e vá aumentando conforme você lembrar dos fatos.
. Peça ajuda, faça entrevistas, colete depoimentos. Crie uma pasta no seu computador com todo o material que for juntando, inclusive as fotos. Recupere as imagens antigas, as frases já ditas, o sentimento que fez toda essa história começar. Resgate.
Uma empresa sem uma história é geralmente uma empresa sem estratégia.
Li essa frase de Ben Horowitz em um livro, mas não acredito que exista uma empresa sem uma história, o que existe é a falta de registro e de cuidado com ela.
Não importa o COMO, o que vale é cuidar dessas memórias que constroem a sua história, a da sua família e a da sua empresa.
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